Resultado do Projecto de Investigação Siza Barroco (que em 2021 ficou classificado em 1.º lugar no concurso, lançado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, para projectos de IC&DT no âmbito da Arquitetura de Álvaro Siza), a exposição encerra um ciclo de estudos desenvolvido ao longo dos últimos 3 anos no CEAU, Unidade de Investigação da FAUP.
O mote foi lançado a partir de um protocolo estabelecido entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), o Ministério da Cultura e a Fundação Serralves, que viabilizou a realização deste programa integrado e pluridisciplinar de investigação em torno da obra de Álvaro Siza, nomeadamente explorando os arquivos que doou e estão conservados na Fundação Serralves, na Fundação Calouste Gulbenkian e no Canadian Centre for Architecture, que deram o seu acordo para a respetiva utilização.
José Miguel Rodrigues (Investigador Responsável e actual director do Centro de Investigação) e Joana Couceiro (Investigadora integrada e co-responsável pelo projecto), ambos curadores da exposição com Constança Pupo Cardoso (Designer e curadora adjunta da exposição) reuniram um relevante grupo de investigadores, bolseiros, consultores, etc., de várias escolas e disciplinas, que gravitam em torno do estudo da obra de Siza partindo, em particular, desta lente barroca, assumida pelo próprio autor em vários momentos do seu percurso.
Ana Tostões, Jorge Figueira, Juan José Lahuerta, Maria Filomena Molder, et. al., são alguns dos nomes que integram a equipa que poderá ser consultada na íntegra neste site, uma das plataformas desenvolvidas ao longo da investigação e que os investigadores pretendem continuar a alimentar no futuro.
A exposição proposta, ao contrário, tem um período limitado no tempo (12 de Setembro a 31 de Dezembro), sendo este carácter efémero uma característica importante para o entendimento de uma das dimensões que caracteriza o Barroco enquanto ideia.
O reconhecimento das nuances da vida humana na expressão artística e na construção arquitectónica de um território colectivo (onde há lugar para a repetição, o anonimato, o dia-a-dia comum, mas também para os lugares de excepção, únicos e irrepetíveis), caracteriza a cidade Barroca que Siza perseguiu e que esta exposição dá a ver fora da esfera académica.
O Museu Nacional Soares dos Reis permite um enquadramento ao visitante, permitindo-o percorrer as sua coleccções antes de entrar na câmara de ecos barrocos, que, além de desvelar alguns dos meandros da investigação a um público diverso, propõe uma interpretação retroactiva da obra de Siza a partir de focos escolhidos.
O programa paralelo à exposição, outra proposta do projecto, tem decorrido desde Abril com conferências de Eduardo Souto de Moura, Angél Garcia-Posada, Juan José Lahuerta e Maria Filomena Molder, estando ainda agendado mais um ciclo de conferências e um colóquio com todos os investigadores.
É de salientar que esta vertente do projecto terá sido valorizada pelo júri do concurso que, na sua avaliação destacara a dimensão cultural fundamental à originalidade e qualidade da proposta:
“Considerando todos os projectos, este é o único que aborda questões de investigação relacionadas com um campo mais vasto de ‘estudos culturais’, com ligações à filosofia e às artes e não apenas à arquitetura. Propõem uma abordagem original para a análise comparativa de obras específicas de Siza a diferentes escalas e em diferentes contextos urbanos. A originalidade do projeto está também presente na ideia de produzir instalações e exposições, escapando a uma divulgação ‘tradicional’ da investigação científica.”
Uma investigação que procurou reunir o arquivo, as publicações e a própria obra de Álvaro Siza, hoje dispersos por várias instituições e geografias, num único sistema de catalogação que permite o natural convívio desta informação, ainda que virtualmente.
O exemplo seguido foi o da catalogação da obra de um autor Barroco – Bach e as suas composições organizadas em BWV. A selecção curatorial parte já desta proposta, divulgando entre os pares uma hipótese de inventariação que os investigadores gostariam de ver implementada, nomeadamente entre as principais instituições que acolheram o acervo de Siza e que apoiaram o concurso lançado pela FCT.
A programação acaba às 21h do dia 14 de Dezembro com um concerto na Igreja dos Clérigos, onde o grupo vocal Olisipo interpretará Magnificat em talha dourada, uma composição de Eurico Carrapatoso, nosso contemporâneo (como Siza), e que (como Siza em relação à arquitectura) assume valorizar mais a tradição do que a originalidade na medida em que está, palavras do próprio, “mais preocupado em escrever música do que em escrever História”. Um compositor do nosso tempo que trabalha a partir da música de outro tempo, como se os limites impostos pela cronologia Histórica perdessem rigidez. Em Carrapatoso, como em Siza, a originalidade e a cronologia são, em si, valores frágeis.
Esta posição em relação ao ofício, partilhada por ambos os autores, estende-se aos mestres e à própria obra.
“O Magnificat é uma obra tonal em Sol Maior, que é a tonalidade que sinto nas talhas douradas (…). É uma homenagem ao Barroco (…). Como é natural, o espírito de Bach ecoa, pairando sobre a obra.”
Ecos que se propagam à arquitectura e a Siza, que talvez tenha razão quando afirma que “Todos temos uma componente barroca nas nossas mentes que não desaparece como as restantes.”
No último trimestre de 2024 é possível colocar à prova os lugares comuns associados ao Barroco, nomeadamente o cronológico, e (é essa a convicção dos investigadores), compreendermos como estes não passam de pontos de partida de uma mundividência muito mais ampla que (pelo menos em Siza), não desaparece.